Conjunto Carmelita de Goiana
Nos anos que se seguiram à Restauração Pernambucana do domínio holandês, os moradores de Goiana, vila situada no caminho da Paraíba, sentindo a distância que os separava de Olinda, solicitaram ao Bispo da Bahia a criação de um Convento Carmelita.
A pretensão dos moradores foi atendida em 11 de janeiro de 1666, quando o Cabido Metropolitano de Salvador deferiu o requerimento do frei Alberto do Espírito Santo, Vigário Provincial da Ordem Carmelita no Brasil, que retornou a Pernambuco com a boa notícia.
As obras tiveram início naquele mesmo ano, 1º de novembro de 1666, em terras doadas pelo capitão-mor Filipe Cavalcanti de Albuquerque. Inicialmente consistia o primitivo convento de uma capelinha, construída em taipa, unida a um conjunto com seis celas para abrigo dos frades, que veio a receber a denominação de Santo Alberto de Sicília, em homenagem ao seu fundador, frei Alberto do Espírito Santo.
A construção inicial permaneceu até o ano de 1679, quando o frei Marcos de Santa Maria promoveu uma campanha para a construção de um novo convento e igreja de pedra e cal no local do primitivo convento. A obra, iniciada em 28 de outubro daquele ano, contou com as generosas contribuições dos moradores de Goiana, dentre os quais o mestre-de-campo André Vidal de Negreiros, cujo filho Francisco Vidal de Negreiros vestia o hábito da Ordem do Carmo. Comprometeu-se o ilustre cabo-de-guerra a destinar aos frades carmelitas 120 arrobas de açúcar branco produzidas por seus engenhos, a exemplo do que havia feito, em data anterior, quando da construção do primitivo convento. A generosidade do mestre-de-campo perpetua-se após a sua morte, quando, por meio de testamento, manteve a destinação das 120 arrobas de açúcar branco, retiradas da produção de seus engenhos, nos dez anos seguintes, destinadas às reformas e alterações de que viessem a necessitar.
A fachada da igreja conventual é obra do século XVIII com seu frontão curvo, posto acima do entablamento ondulante; apresenta nicho com imagem e na sua parte mais alta cruz e pináculos. Na parte inferior da mesma fachada, encontramos portas e janelas em meio arco. A torre, em construção robusta, exibe em seu campanário elementos que podem datá-la como sendo construção do século XVII, salvo o lanternim em forma de meia laranja.
No seu pórtico, assinalam-se obras em talha, com imagens do século XVIII, destacando-se, ainda, junto ao altar-mor a Capela do Senhor Bom Jesus dos Passos e a imagem de Nossa Senhora da Soledade.
Segundo o Guia dos bens tombados, “diversos elementos da fachada-em especial as portas e janelas em meio arco registram épocas diferentes de construção”.
Cornijamento ondulante, encimado por frontão curvo, vazado por nicho com a imagem, pináculos e cruz. Torre bulbosa, com pináculos. O convento é de sólida e vasta proporção, tendo, no centro, o característico claustro monacal. No pavimento térreo, onde funciona o Colégio Santo Alberto, além das salas de aula, existem os refeitórios, cozinha e outras dependências conventuais. No andar superior, as celas, bibliotecas e sala capitular.¹
A entrada do convento fazia-se através de um copiar (alpendre), cujos vestígios restantes são apenas as duas colunas encostadas à parede da portaria. No forro da mesma portaria, podemos notar uma pintura dos profetas Elias e Elizeu, datada também de 1719.
A igreja e o Convento do Carmo de Goiana foram objeto de visita de D. Pedro II, em 6 de dezembro de 1859: “na igreja encontrei epitáfios cujas datas é que me interessaram; sepultura de 1688 de João Paes de Bulhões e sua mulher e filhos; sepultura de Francisco Afonso Veras e de sua mulher Tereza de Jesus... ores ... agosto de 1719. Sepultura (que não se lê bem) de 1687. O religioso, um dos quatro que costumam residir neste convento, pertence à Provincia Carmelita de Pernambuco e supõe que a fundação do convento teve lugar há 200 anos. Os papéis foram todos estragados na Revolução de 1848. Lanço e meio do claustro está em ruínas, destelhado, e parte das paredes caídas, o resto foi reparado”.²
Ao lado direito do Convento de Santo Alberto da Sicília encontramos, um pouco recuada, a igreja da Ordem Terceira do Carmo, cuja construção remonta ao ano de 1753. Em sua singeleza, ostenta a igreja e os irmãos terceiros um frontão barroco, com as suas curvas e contracurvas, encimado por cruz central ladeada por duas ordens de pináculos, uma única porta de madeira com almofadas, as três janelas do coro, com arcos rebaixados, conservando sobre estas o brasão em pedra calcária com os símbolos da Ordem Carmelita.
No seu interior, elementos valiosos em talha dourada e os painéis pintados no teto da capela-mor despertam a atenção do visitante. Em sua nave principal, destaca-se o altar-mor, com outros quatro altares laterais, alterados em suas formas originais, seguindo-se de dois púlpitos em ferro que compõem o restante do seu patrimônio.
As fachadas das duas igrejas têm características do século XVII, muito embora o monumento cruzeiro, erguido no centro da praça, esteja datado de 1719. O perfil barroco deste último, com motivos orientais que o adornam, parece revelar a influência que sobre o artista exerceu o também monumental conjunto franciscano da Paraíba.
O conjunto encontra-se inscrito como Monumento Nacional nos livros de Belas Artes v. 1, sob o nº 216 e 229, em 25 de outubro de 1938; Histórico v. 1, nº 106, em 25 de outubro de 1938 9 (Processo 147-T 38 e Processo 173-T).
Histórico extraído pelo acadêmico Marcos Paulo do Livro Pernambuco Preservado do historiador Leonardo Dantas.
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